Por um segundo, senti a terra balançar sob meus pés e o mundo girar ao meu redor. Minha vista escureceu e o enjôo foi tão forte que quase deixei minha última refeição se espalhar em cima do maravilhoso tapete verde da Sra. Mellark. O mundo silenciou. 

Tudo isso me acometeu durante exatamente um segundo. O segundo em que senti a cruel brasa da traição terminar de marcar minha pele. 

Então o chão parou de vacilar, minha vista estava ótima e a voz de Glimmer fazia sentido em meus ouvidos. Bom, quase tudo voltará ao normal. Meu peito estava estranhamente... oco. 

- Everdeen, eu queria que você... 

Interrompi-a. 

- Tsc, tsc, tsc. – balancei a cabeça, apertando os olhos e mirando o teto. – Isso é muito feio, sabiam? 

- Everdeen... 

- É desumano também. – abaixei a vista e entrei na sala, aproximando-me da loira. – Pode até ser mais um ato de ingenuidade da minha parte, mas eu realmente não esperava isso. Nem mesmo de vocês.

Minha voz soava vazia e gelada até mesmo para mim. Eu não a reconhecia assim como também não reconhecia aquele Peeta Mellark que me olhava de maneira assustada. Certamente não era o mesmo garoto por quem eu fui apaixonada a vida inteira. Pois o de agora era um estranho, canalha e mentiroso. Nada parecido com o menino doce que me dera aquela flor há tanto tempo. 

E, naquele momento, meus sentimentos também haviam mudado. Eu o odiava. 

- Kat, do que você está falando? – a voz de veludo estava mais rouca. 

- Não me chame assim. – virei como um raio em sua direção, lançando-lhe um olhar assassino. – Somente meus amigos podem me chamar assim. E nós não somos amigos, nós não somos nada. 

Seu rosto se contorceu em uma careta de sofrimento. 

- Deixa-me falar, Everdeen! Eu posso explicar... – a voz chorosa da Rabim começou outra vez. 

- Não. Eu não deixo você falar. Por que motivo você quer falar agora? Já não deixou tudo bem claro em nossa última conversa? – arqueei a sobrancelha – Você já falou muito. Agora é minha vez. Já me trouxeram aqui para esse belo circo – fiz um gesto amplo com a mão, indicando a

sala - contra minha vontade. Então, acho justo que eu tenha a preferência para falar. Ou, melhor, para fazer algumas perguntas. 

Dei mais alguns passos, virando de modo a conseguir uma vista dos dois. 

- O que exatamente vocês acharam que ganhariam me trazendo até aqui? Algumas horas de gargalhada? Pensaram que eu fosse começar a chorar desesperadamente? Queriam me humilhar, é isso? – revezei minha atenção entre um e outro. - Então, me desculpem se desaponto vocês. Afinal, posso até ser idiota, porém não me encaixo bem no papel de palhaço. – sacudi o ombro e franzi o nariz – Que pena! Mas não vamos desperdiçar tanto trabalho. Vamos lá, podem dizer o que vocês têm a dizer. Jogue na minha cara o quão feliz vocês estão por terem reatado seja lá o que vocês tinham! Só não posso prometer ficar aqui por muito tempo, pois acho muito feio ficar tripudiando. 

Dei um sorrisinho amargo. 

- Também é feio ficar chutando... 

- Cale a boca, Everdeen. 

- Desculpe, querida, mas, quem você pensa que é? – perguntei calmamente.

Em outro momento eu teria dado outra resposta, uma muito menos educada. Contudo, agora, nem isso me afetava mais. Eu estava me sentido... bom, na verdade, não estava sentindo nada. Nem mesmo raiva ou impaciência. 

- Sou alguém que está tentando impedi-la de ficar em uma situação ainda mais desconfortável. – os belos olhos azuis dela estavam opacos e tristes. 

- Então, me esclareça, por favor, como exatamente essa situação poderia ficar ainda mais desconfortável? – ironizei. 

- Se me deixar falar, vai perceber o quão idiota está sendo. 

- Oh! Isso vai ser interessante. Aliás, nós estamos construindo uma bela amizade, não, Rabim? Você está sempre me ajudando a "não ser idiota". O que eu faria sem você? – coloquei a mão sobre o coração e dramatizei um suspiro. 

- CHEGA, EVERDEEN! Chega! – o grito dela foi tão veemente e tão histérico que eu decidi atender seu pedido. 

- Certo. Diga de uma vez o que você quer. – cruzei os braços, cansada de todo aquele jogo. 

- Eu... – respirou fundo – Eu... Lembra da nossa conversa no banheiro da escola?

Balancei a cabeça, concordando. 

- Eu menti. 

Pensei que só eu estava enlouquecendo, todavia, o resto do mundo parecia estar seguindo o mesmo caminho. Arqueei a sobrancelha e continuei em silêncio. Não é bom contrariar quem perde a lucidez, eles podem ficar violentos. E eu sou nova demais para literalmente morrer. Ainda não fui à Paris, não comprei uma bolsa Prada e nem terminei de ler Percy Jackson - o Último Olimpiano... 

Realmente, tenho muito que fazer. Não vale a pena correr o risco de deixar a maluca loira me estraçalhar por chamá-la de maluca loira. 

Esperei a continuação da história. Todavia, parece que aquela última frase era para ser o catalisador para alguma reação dramática da minha parte. Até poderia, atendendo as expectativas, protagonizar uma cena se eu soubesse do que raios ela estava falando. 

Fingi uma tosse. 

Pelo andar da carruagem se eu não dissesse alguma coisa, ficaríamos ali, silenciosamente parados, durante toda noite. 

- Mentiu sobre o que exatamente? 

- Sobre tudo.

- Rabim, não gosto de respostas vagas e gosto menos ainda de conversar com você. Então, se fosse possível, gostaria que suas frases tivessem um sentido completo. – cada palavra foi carregada pelo desprezo que sentia. 

- Peeta nunca conversou comigo sobre o relacionamento de vocês. Na verdade, posso contar nos dedos quantas vezes nos falamos depois que vocês começaram a namorar. E em nenhuma delas, mesmo eu insistindo muito, ele falou sobre você. Sempre dizia que isso não era da minha conta e que se a insistência continuasse, nossa amizade acabaria. – soltou uma risadinha triste – Amizade. Sempre foi isso. Sabe? Nós até tentamos uma vez, não é, Peeta? Há um tempo. Não deu certo. Mas ainda acreditam que somos algum tipo de casal super secreto. Eu era um dos que queria acreditar nessa mentira. – soltou uma risada áspera - Patético, não? Apesar de Peeta ter você, eu continuava me enganando. Só percebi que havia passado dos limites, que minha imaginação havia passado dos limites, quando um Mellark furioso quase derrubou a porta da minha casa, perguntado sobre o que droga eu tinha falado para a namorada dele. 

Ela soltou o ar pesadamente, lágrimas escorriam por seu rosto. Aproveitei a brecha.

- Olha, não sei por que você está fazendo isso. – movimentei as mãos – Inventando isso. E também não me importo. O.k.? Eu já ouvi todas essas suas asneiras. Será que agora posso ir embora agora? 

- Você prestou atenção no que eu disse? – ela gritou. 

- Ouvi tudo que você disse. E posso ver claramente as falhas nessa sua mentira cretina. Se o Mellark não lhe contou nada, de onde você tirou aquele discurso? 

- Discurso? Vamos lá, Everdeen, até você é mais inteligente que isso! – lançou-me um olhar impaciente sobre as lágrimas – Não lhe disse mais do que cinco sentenças. E não pode imaginar o porquê? – esperou – Porque eu tive medo de cair em contradição e acabar com meu próprio plano! – exclamou, quase histérica. 

Lá estava eu de volta aos filmes do Coringa, mas, dessa vez, outra ocupava o papel de "gênio do crime". 

Quanta bobeira... 

- Ficar rodeando minhas perguntas não vai me fazer acreditar nesse patético fingimento de vocês. Nem mesmo entendi por que vocês estão se dando ao trabalho de tentar me convencer de seja lá o que você está tentando dizer. – espanei o ar com uma das mãos. – Para mim já chega! Vou embora. Cansei de ficar ouvindo mentiras mal contadas. Só um último

conselho: na próxima vez que tentar enganar alguém, tente construir uma mentira sólida ou, ao menos, uma remotamente convincente. 

Dei-lhe as costas e comecei a andar em direção a saída. Peeta Não havia se mexido um milímetro do lugar em que se posicionara quando chegamos. Pouco importava. Dessa vez realmente iria para minha casa, nem que para isso tivesse que lhe aplicar um golpe baixo. 

- Eu ouvi Gale conversando com Peeta. 

As palavras secas me fizeram parar. Virei devagar, voltando a encará-la. 

- O que foi que disse? 

- Estava passando pela porta do laboratório de física quando ouvi Hawthorne dizer que vocês dois estavam correndo um risco tremendo e que se alguém descobrisse, muita gente sairia machucada. Foi tudo que consegui entender. Sai do corredor antes que algum deles pudesse me ver. Passei o resto do dia remoendo o que ouvira. Foi quando percebi que essa era a chance de destruir o namoro de vocês. No outro dia, segui você quando saiu do refeitório e usei a oportunidade para blefar. – seu olhar me fuzilava – Não tinha certeza se daria certo. Era um grande risco, mas depois da careta que você fez quando eu soltei a primeira provocação, percebi que havia conseguido tocar a ferida. Foi muito mais fácil do que eu

poderia sonhar. Estava tudo de volta nos eixos. Você se afastaria de Peeta por não confiar mais nele e ele não se importaria... Mas tudo desmoronou quando descobri que Peeta se importa. – duas outras lágrimas escorregaram. 

Ela engoliu em seco. E olhou para ele. 

- Sinto muito por tudo que fiz vocês passarem. Desculpe por ter me intrometido no relacionamento de vocês. – voltou sua atenção em minha direção – O que você ouviu naquele dia foi uma mistura de conversa alheia e imaginação. Peeta jamais trairia a confiança de ninguém desse jeito, especialmente a sua. 

Senti minhas pernas fraquejarem, pois agora as o irreal começava a parecer possível. 

- Vo... você está mentindo. –gaguejei. 

- Não. 

- Está sim. – sacudi a cabeça, me recusando a acreditar. 

- Não. – suspirou, tão cansada que aparentava ter cinqüenta anos. – Não estou mentindo. Não dessa vez. 

Levantei a mão trêmula para cobrir os lábios ao ler a verdade no rosto dela.

- Vejo que finalmente entendeu. – deu um sorriso fraco - Está na hora de ir embora. – seus ombros desabaram em uma pose derrotista. 

Glimmer passou por mim, contudo, ainda pude ouvi-la: 

- Espero que um dia possa me perdoar, Peeta. 

Não houve resposta. 

Desorientada, dei alguns tropeços e sentei no sofá antes que minhas pernas cedessem. Esfreguei as mãos pelo rosto enquanto outra dose de realidade era injetada em minha veia e fazia meu sistema nervoso entrar em colapso... de novo. 

Flashes da conversa do banheiro rugiam em meu ouvido e se misturavam a tudo que Glimmer me dissera agora. 

Entretanto, essa mescla perdia espaço quando as cenas na sala do armário explodiram como feixes de luz vermelha por baixo de minhas pálpebras cerradas. Solucei. A dor da humilhação era tão forte que eu teria começado a chorar como um bebê se tivesse sobrado algumas lágrimas. Não sobrou. Eu desperdicei todas elas por um falso motivo... por me sentir traída por algo que não aconteceu de verdade. 

Talvez eu devesse escrever um livro intitulado "O que não fazer na adolescência". Venderia milhões, eu ganharia milhões, então poderia

mudar para Paris, Havaí, ou até mesmo para o Japão... qualquer lugar onde eu não precisasse encarar as profundas Piscinas de Peeta. 

Oh Céus! Eu teria que enfrentar a realidade, e, com isso, quero dizer, encarar Peeta. Aonde encontraria coragem para olhar em sua direção depois de tudo que revelei naquele dia no ginásio? 

Pensei que nada poderia superar a vergonha que senti ontem... doce engano. Aquela humilhação era apenas uma gota d'água se comparada ao oceano que me soterrava agora. Toneladas de desespero me impediam de ver qualquer saída onde meu orgulho conseguisse escapar da completa aniquilação. Se é que sobrou algum fragmento de orgulho para ser salvo... Devo ter passado uns dez minutos nessa mesma posição, apenas tentando recuperar o fôlego que esse novo golpe havia roubado. Escorreguei as mãos do rosto para os cabelos, puxando-os para trás, tentando adiar mais um pouco o inadiável. 

Respirei fundo e levantei, ainda que não tivesse total confiança na cooperação das minhas pernas. Virei em sua direção. Peeta continuava no mesmo lugar, mas sua expressão estava diferente. Os traços perfeitos mostravam um cansaço tão grande que poderia ser comparado ao meu esgotamento físico-mental. Seus olhos estavam tristes e gelados. 

Não fazia a mínima ideia de como começar aquela que com toda certeza seria a discussão mais constrangedora da história da minha vida.

Felizmente, Peeta pareceu se compadecer da minha confusão e deu a primeira palavra. 

- Katniss, eu sinto muito por tê-la feito passar por tudo isso... – indicou a sala - Mas parecia não haver outro jeito para fazê-la acreditar em mim. 

Demorei um momento para responder, pois não conseguia achar minha voz e porque não reconheci a voz que falava comigo. O macio tom de veludo estava áspero e frio. E isso fez eu me encolher, pois o gelo em suas palavras fincava impiedosamente na minha pele. 

- Não sei por onde começar, Peeta. – admiti baixinho – Está tudo tão confuso... 

- Eu sei. – assentiu – Mas nós precisamos conversar. Precisamos endireitar as coisas. – deu alguns passos para dentro da sala. 

Mordi o lábio inferior enquanto obrigava meu cérebro a trabalhar em potência máxima para conseguir uma resposta que me poupasse de novos constrangimentos. Contudo, quando criei coragem para falar algo, o barulho da porta da frente sendo aberta me interrompeu. 

Então, em um piscar de olhos, a sala foi invadida por várias vozes animadas. Não sabia se ficava agradecida pela interrupção ou se me enchia de pânico pela possibilidade de outras pessoas presenciarem o trapo que eu estava. Os outros dois Mellark filhos dessa casa, seus

respectivos companheiros e Peter irromperam alegremente pelo cômodo antes que eu pudesse me decidir qual sensação predominava no momento. 

As gargalhadas rapidamente morreram ao perceberem o clima pesado que nos envolvia. 

- Alguém morreu? – Cato perguntou, parecendo muito sério. 

Os sentimentos conflitantes chegaram a um acordo e senti o vencedor entre eles – o alívio – me inundar. Não foi por acaso. Eu acabara de perceber que aquela era a válvula de escape perfeita para que eu conseguisse tempo para colocar a cabeça em ordem. Então olhei para a única pessoa que me faria um imenso favor e sem comandar um bombardeio de perguntas indiscretas durante o caminho. - Peter, você poderia, por favor, me levar para casa? 

Seus olhos azuis cintilavam surpresos, mas ele acenou com a cabeça e virou para o primo. 

- Cato? - O ursão que me lançava olhares tão confusos quanto os de qualquer um no resto da sala - voltou a atenção para o primo. Houve um pequeno instante de conversa silenciosa entre eles, então o Mellark mais velho atirou algo para o outro. - Kat, vamos? – Peter perguntou.

Evitei olhar para qualquer um dos meus amigos enquanto covardemente caminhava a passos largos para fora da sala e da mansão. 

Peter dirigiu em silêncio o jipe de Cato até estacioná-lo em frente a minha casa. 

- Muito obrigada, Peter. – sussurrei ao abrir a porta do veículo. - Kat? 

Cerrei as pálpebras com pesar. Realmente havia acreditado que me livraria dessa sem qualquer tipo de questionamento... pelo menos por hoje. Respirei fundo e girei o tronco para olhá-lo. 

- Sim? 

- Eu vou estar aqui se você precisar. Promete que vai lembrar-se disso? 

Soltei um sorrisinho fraco. 

- Prometo. Obrigada, Peter. – me inclinei e deu um rápido beijo de agradecimento em sua bochecha. – Tchau. 

Corri para dentro da - ultimamente muito requisitada - segurança do meu quarto. Joguei-me na cama, disposta a analisar todo o ocorrido nesse dia... tanta coisa para um único período de 24 horas. Estresse emocional para uma vida inteira e não para apenas algumas poucas horas...

Queria só dormir e esquecer todos os meus novos problemas, mas era mais fácil dissecar tudo hoje para ficar livre desse processo penoso amanhã. 

Essa minha tentativa deve ter durado uns vinte minutos. Não fui forte o bastante. Estava lutando para manter meus pensamentos em ordem quando o desgaste emocional acabou com minhas reservas de energia e me fez cair no mais profundo dos sonos. 

XXX 

Chegava a ser ironicamente conveniente o fato de que os piores dias da minha vida geralmente caiam em uma sexta-feira, assim eu não precisava enfrentar a escola no dia seguinte. Com isso só sobrava ficar na linha de frente contra meus amigos e família... sabe como é, gente pouco importante na minha existência. O que tornava tudo muito mais fácil. 

Eu definitivamente tenho que parar de abusar da ironia quando estou chateada. Mas é difícil se livrar de velhos hábitos... 

No presente momento me encontrava em frente ao espelho, tentando usar o pó para disfarçar a palidez do meu rosto. Não queria ter sido obrigada a recorrer à maquiagem para encontrar Peeta hoje. Contudo, não conseguira fazê-lo voltar à cor natural. Porque a cada pequeno progresso

que fazia para voltar ao normal, os pensamentos tumultuosos sobre o que enfrentaria vinham me assombrar e roubar qualquer vestígio de cor. 

Eu nem podia reclamar da minha total falta de entusiasmo/coragem, pois a situação estava atipicamente pior dessa vez. E os motivos variavam desde o fato de ter contado a Peeta que ouvi demais e o porquê eu estava ajudando-o até o meu não-aviso de que estava indo agora à mansão Mellark para resolvermos isso tudo de uma vez por todas. Passei a última camada de pó e guardei tudo na gaveta da penteadeira. Estava de botas pretas sem salto, calça jeans escura e uma jaqueta jeans também escura sobre uma blusa branca. Meu vestuário poderia ser 

considerado exagerado para uma situação tão "simples". Mas era como uma capa de proteção... se já havia tantos pontos fracos para serem atacados, pelo menos minha aparência não seria um deles. 

Peguei minha bolsa e desci até a picape. O caminho não era longo, mas grande o suficiente para que houvesse tempo para novas reflexões. 

Talvez eu não seja muito melhor que Glimmer, afinal, assim como ela, ouvi uma conversa alheia e transformei tudo em um grande espetáculo recheado de inverdades. Sacudi a cabeça para espantar essas ideias e não abaixar ainda mais minha auto-estima. Procurei, então, preencher minha cabeça mais uma vez com meu discurso de desculpas. Eu devia desculpa a ele, afinal, lancei-lhe um punhado de insultos grátis...

Por sorte, Peeta era uma excelente pessoa e talvez me perdoasse... um dia... Não foi nada tão ruim assim, não é? Apenas: persegui-o a vida inteira, escutei sua conversa pessoal, prometi ajudá-lo e acabei transformando tudo em uma bagunça, acreditei na vadia da Rabim, acusei-o injustamente sem dar qualquer chance de defesa... 

Eu estava completamente perdida. Nunca serei perdoada... nem mesmo eu me perdoava por tanta insensatez. Meus nervos entraram em estado de calamidade pública ao vislumbrar o pátio da mansão cheio de carros. A família Mellark inteira estava lá, assim como os dois Hawthorne. 

Quando você acha que as coisas não podem piorar, a vida vem e lhe surpreende! 

Estacionei a picape e encostei a testa no volante, procurando por uma dose extra de coragem. Respirei fundo, desci do carro e bati na porta. Talvez, com uma pitada de muita sorte, Peeta atenderia a porta e eu poderia puxá-lo para fora e nós conversaríamos longe de qualquer curioso que houvesse dentro da casa. 

Mas como a lei de Murphy é a que rege minha vida... 

- Oi, Katniss! Como você está, querida? – Sra. Mellark me deu um abraço apertado – Vamos entrando. – me deu leves empurrõezinhos para

que eu entrasse na casa – Nós estávamos estranhando sua demora. Peeta já estava saindo para ir buscá-la. 

- O quê...? – sibilei. 

A senhora Mellark não me ouviu. 

- Peeta! – elevou o tom de voz – Veja quem chegou. 

O Loiro surgiu pela porta que levava a cozinha. 

-Oi, amor! Por que a demora? Alguma coisa com a picape? – ele se aproximou e deu um beijo em minha testa. 

- Bom, agora que não falta ninguém, nós podemos começar. Vamos para sala, queridos? – sorriu maternalmente para nós. 

Franzi o cenho. Será que eu estava sonhando? Ou, quem sabe, em uma realidade alternativa? 

Peeta se afastou um pouco e estendeu a mão para mim. 

- Vamos, amor? 

Meu queixo caiu. O que raios estava acontecendo ali?