Sei que isso vai parecer meio clichê, meio filme pré-adolescente norte americano, mas quando os lábios dele tocaram os meus, tudo, absolutamente tudo, foi expulso da minha mente. Eu não saberia dizer onde estava, que dia era, nem mesmo meu nome conseguia lembrar. A única coisa de que eu sabia, era a pessoa que estava me beijando e o quanto eu havia esperado por esse momento. 

Porém havia algo errado. Peeta simplesmente não se movia, não aprofundava o beijo. 

Por que ele não se movia? 

Alguma coisa cutucava meu cérebro, dizendo que eu precisava me lembrar de algo. Contudo, no momento, eu estava agindo antes de pensar. 

Meus braços, ergueram-se, quase como se tivessem vontade própria e abraçaram o pescoço dele. Apertei meus lábios nos dele, Peeta soltou o

ar pesadamente, abrindo a boca, e foi aí que eu consegui aprofundar o beijo. 

O gosto dele explodiu em mim ao primeiro encontro de nossas línguas. Minhas mãos subiram e se afundaram nos gloriosos fios acobreados, exatamente como eu sonhara tantas vezes, puxando-o para mais perto. As mãos dele apertaram minha cintura quando ele finalmente reagiu, beijando-me de volta. Era como se fogo líquido corresse por minhas veias, meu coração disparava além do que era saudável e minhas pernas viraram gelatinas. Não fossem as mão que me abraçava pela cintura, eu cairia sentada no chão. 

Era maravilhoso. 

Interrompi o beijo a fim de puxar um pouco de ar, mas aproveitei a oportunidade para morder o lábio inferior dele, puxando-o de leve. É claro que voltei a beijá-lo no segundo seguinte. Eu não conseguira o suficiente de oxigênio, mas quem se importa com esse gás quando se pode beijar Peeta Mellark? 

Eu com certeza não me importava, todavia, ele parecia preocupado com a oxigenação do próprio corpo porque pouco depois se afastou. Eu continuava em seus braços, mas sua boca não estava mais na minha. E isso era uma tremenda injustiça!

A reclamação que estava prestes a proferir ficou presa em minha garganta quando meus olhos se chocaram com os dele. As piscinas suaves que sempre me faziam perder o rumo estavam gélidas no momento, sustentando um brilho feroz. 

- Mas o que... - Comecei. 

Então os assobios e gritos chegaram até meu cérebro embriagado. - Que beijão, casal ternura. 

- Isso tudo porque não se beijaram a noite inteira? 

- Se continuar assim, nós não poderemos deixar vocês sozinhos por muito tempo. Eu sou muito nova para ser tia. 

Pisquei algumas vezes, tentando voltar à realidade. Peeta virou a cabeça para o lado e forçou um sorriso. Voltei minha atenção para onde ele olhava e encontrei nossos amigos, segurando potes de sorvete e nos olhando de maneira divertida. 

" Eles perguntaram por que nunca viram um beijo nosso. " 

O calor gostoso que me acalentava sumiu completamento quando meu cérebro voltou a funcionar, obrigando-me a ver a razão do beijo e o papel de idiota que havia representado mais uma vez.

Mellark só me beijara porque nós tínhamos uma audiência para enganar, não por vontade. Minhas bochechas queimavam enquanto, com um pouco de esforço, já que ele me segurava com força, desvencilhei-me de seus braços, indo em direção aos nossos amigos. 

- Não precisa ficar com tanta vergonha, Kat. Não é como se não fizéssemos isso também. - Cato gargalhou. 

Por sorte eles só sabiam da vergonha que estava passando, portanto não tinham nem ideia de quão humilhada me sentia. E por sorte nem sequer imaginavam o motivo real por trás desses sentimentos tão ruins. 

- Vamos embora. - resmunguei, indo para o carro. 

É claro que o que eu menos queria no momento era ficar em algum lugar tão pequeno com Peeta, mas seria bem estranho se eu saísse correndo e me escondesse no Jeep de Gale. Depois que todos se acomodarem em seus respectivos carros, começamos o caminho de volta para casa. Mantive meus olhos grudados na janela. 

Eu jurava que não faria nada idiota em relação a ele. Ou, pelo menos, nada tão idiota. E no primeiro teste faço um estrago imenso. Peeta só me deu um selinho porque nossos amigos tiveram uma pequena desconfiança. E ao invés de agir como uma pessoa racional que tem ciência dos próprios limites, eu praticamente abusei dele.

Deus! Como eu sou estúpida! 

Ridícula. Peeta devia me considerar uma ridícula desesperada. Por que não devia considerar exatamente isso? Eu tinha essa opinião sobre mim mesmo. 

Escorreguei a cabeça, encostando a testa no vidro frio. 

Por que tinha que doer tanto? Por que não entrava em meu cérebro que o Peeta não gostava de mim? Seria tão mais fácil se esse entendimento se fixasse em minha mente. Assim eu não interpretaria erroneamente cada pequeno gesto dele e não sofreria depois quando a verdade por trás de suas ações. 

Peeta não me beijou porque queria; também não segurou minha mão porque desejava ficar perto de mim; e, com certeza, não me abraçava porque não conseguia ficar longe. 

Isso doía muito. Pensar que nossa relação nunca passaria de fingimento. 

Soltei um suspiro. 

O carro parou. Ergui a cabeça e vi que estávamos em frente a minha casa. Nunca fiquei tão feliz por ver aquela construção azul e branca. 

- Tchau, garotos. - Saltei do carro e praticamente corri até a entrada.

Contudo, como estava acontecendo com bastante frequência esses dias, o universo conspirou contra mim. Ouvi a porta do carro ser aberta e depois passos atrás de mim. 

Suspirando, soltei a maçaneta da porta de entrada. Eu estava tão perto da liberdade. 

Girei e, como esperado, encontrei Peeta a poucos passos de mim. Afinal, Peter, estava no carro, não podíamos arriscar o " faz de contas " agora. Já tínhamos ido longe demais para atirar tudo pela janela agora. E o "Namorado" ir embora sem se despedir corretamente da " namorada" iria gerar perguntas constrangedoras para as quais não tínhamos respostas convincentes. 

- Boa noite, Peeta. - falei, a voz estrangulada. 

- Katniss, sobre o beijo, eu... 

- Não quero falar sobre isso. - interrompi. 

-Mas, Katni.. 

- Boa noite, Peeta. - Interrompi mais uma vez. 

Aproximando-me dei um beijo em sua bochecha e entrei em casa. - Boa noite. - Repeti mais uma vez e fechei a porta.

Felizmente Peter estava longe demais para ouvir nossa conversa. Felizmente ninguém viu quando corri até meu quarto, caí na cama e passei a noite encolhida em posição fetal, tentando fingir que tudo era um sonho. Fingindo que a qualquer momento eu acordaria e descobriria que a conversa que ouvi na porta do quarto de Peeta naquele dia era apenas minha imaginação sendo cruel; e que um dia eu teria a chance de ser realmente a namorada dele porque ele gostava de mim e não porque ele tinha pena da avó. 

-Sonho. Fingimento. Nunca vai passar disso. - Uma vozinha fria sussurrou em minha mente. 

Não era a mesma voz que "conversara" comigo no cinema, era uma versão bem mais malvada daquela 

Tive que reconhecer que esta estava certa. 

Coberta pelo desespero daquele reconhecimento, chorei até o cansaço me vencer e me puxar para a inconsciência do sono. 

XXX 

- Por que você sumiu no domingo? Eu liguei no seu celular várias vezes e sempre dizia que estava fora da área de cobertura. - Imitou a voz irritante daquele mensagem gravada. - E ninguém atendia o telefone da sua casa.

- Meu pai foi pescar e eu fui até a capital com a minha mãe. Ela queria comprar um novo sofá para nossa casa e não queria ir sozinha, então pediu para que eu a acompanhasse. 

Não foi bem assim que aconteceu. na verdade, quando soube que ela iria à capital, implorei para que me levasse junto. Eu não poderia ficar aqui e encarar outro "programa de casais" tão cedo. Precisava de tempo para me recuperar do que o último havia me causado. 

-Mas eu tinha planejado um almoço. Nós seis e o Peter. - Resmungou - Eu não sabia. Madge. 

Mentira de novo. Eu estava me tornando uma especialista em inverdades. 

- Então fique sabendo que nós vamos sair na sexta assim você não aparece com... 

-Madge, querida, nós já entendemos o seu ponto. - Gale interrompeu-a. 

-Mas, Gale... 

-Madge, por favor. 

Ela resmungou alguma coisa, mas ficou em silêncio.

Peeta estacionou o carro no exato instante em que o sinal soava. Ele contornou o carro e abriu a porta para mim antes que eu pudesse pensar em puxar a maçaneta. Com um sorriso constrangido, puxou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Resignadamente caminhei ao lado dentro do prédio principal onde teríamos nossa aula de biologia. Juntos. 

O professor não havia chegado ainda, por isso a sala barulhenta com todas as conversas paralelas misturadas em uma grande bagunça. Isso foi até Peeta e eu entrarmos na sala. Na verdade, nada aconteceu quando entramos na sala. O problema foi quando viram nossas mãos unidas. 

O mais profundo silêncio se abateu sobre o lugar. Foi assustador como todos os olhares de nossos colegas se fixaram em nós. Meu namorado, no entanto, não pareceu se incomodar. Acho que ele já está acostumado com esse tipo de coisa sendo o capitão do time de futebol e o garoto mais lindo da cidade. 

Peeta nos conduziu até nossa bancada e eu ainda sentia a atenção da sala inteira cravada em nós. 

- Está todo mundo olhando, Peeta. - Sussurrei, torcendo para ninguém ouvir. 

- Daqui a pouco eles se cansam e vão cuidar da própria vida. - Sussurrou também, divertido. Antes de piscar pra mim

Nas aulas seguintes achei que teria um pouco de paz, estava criando uma doce ilusão. 

Na verdade, pelos pedaços de conversa que consegui ouvir, Madge já havia contado para todo mundo na sexta-feira mesmo, mas só agora, vendo com os próprios olhos, é que eles acreditavam em nosso namoro. Na hora do intervalo eu já estava um pilha de nervos, sentindo que a escola inteira falava sobre nós. 

- Você disse que eles se cansariam. - Sussurrei indignada para Peeta. - É. Provavelmente amanhã tudo volta ao normal. 

-"Provavelmente"? - Soltei um gritinho. Não acreditando na minha sorte.